Estiagem afeta produtores do Sul, mas não afeta a safra 2022

A seca no Sul do País e o excesso de chuvas em partes do Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste geraram perdas na produção agropecuária e estão aumentando os custos no campo, podendo pressionar a inflação dos alimentos ao consumidor, neste ano. Mas não foram as chuvas excedentes, deste período recente, que afetaram a produção, e sim a estiagem vivida no início do ano.

De qualquer modo, a safra se mantém em alta. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o quarto levantamento da safra 2021/2022 estima que a produção brasileira de grãos vai chegar a 284,4 milhões de toneladas. A despeito de no mês de março ter sido feito um levantamento relativo às novas fases de estiagens e, por conta disto, foram enviadas pela Sala de Situação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 538 alertas, com 143 ocorrências registradas em municípios monitorados, sendo 84 de origem hidrológica e 59 de origem geológica.

O Índice Integrado de Seca (IIS), para o mês de fevereiro, quando comparado ao do mês de janeiro, aponta permanência de seca moderada a extrema em Mato Grosso do Sul e Região Sul, além de seca fraca no Mato Grosso, São Paulo, Goiás, Minas Gerais e em vários estados do Nordeste. Os cenários de IIS para o mês de março foram surpreendentes quando comparados com a realidade dos dois últimos meses. A realidade de março (com chuvas 30% abaixo ou 30% acima da média) apresentavam condições de seca fraca em grande parte do país, com condição de seca moderada à extrema, principalmente nos estados do Mato Grosso do Sul e da Região Sul do país. Algo que foi desconstruído após o final de março.

Agronegócio é o motor da economia brasileira

Embora o volume seja 12,5% superior ao registrado no ciclo 2020/2021, a projeção foi reduzida em relação ao terceiro levantamento, publicado em dezembro de 2021, que previa uma colheita de 291,21 milhões de toneladas.

A seca afetou as lavouras no Sul do país e fez com que as projeções de produção de milho e soja fossem reduzidas. A colheita de soja pode atingir 140,5 milhões de toneladas e a de milho, 112,9 milhões. No levantamento anterior, a expectativa era de 142,8 milhões de toneladas de soja e de 117,2 milhões de toneladas de milho.

Os problemas climáticos se estendem desde o fim do ano passado, como resultado do fenômeno La Niña que, em resumo, provoca chuvas fortes no Norte e Nordeste do Brasil e estiagem no Sul. As novas estimativas ainda são superiores aos volumes colhidos na safra 2020/2021, pois a produção do ano passado foi bastante afetada por problemas climáticos como secas e geadas. “Minha perspectiva é moderadamente otimista, com o aumento da área plantada e do volume de produção”, disse Victor Martins, analista da corretora Planner.

 

O grande culpado pelos eventos climáticos é sempre o fenômeno La Niña, no Atlântico

Segundo o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, os eventos climáticos que afetam as lavouras são causados pelo fenômeno La Niña e devem perdurar até o segundo semestre de 2022, quando o setor voltará a ter certa normalidade climática, podendo retomar níveis mais robustos de aumento de produção. “Com este ‘novo normal’, a produção de milho tem condições de crescer 10 milhões de toneladas por ano até o final da década”, observou.

Na verdade, passados dois meses das previsões iniciais do fim do período úmido e o início do seco, convivemos com eventos históricos de precipitação no Rio de Janeiro. Além disso, foi o período de retorno das chuvas para a Região Sul, o que resultou no fim da estiagem nos três estados.

Apesar da quebra de safra, o agronegócio teve boa rentabilidade no ano passado, pois os preços de commodities agrícolas como soja, milho, boi gordo e açúcar avançaram significativamente, algumas delas atingindo inclusive patamares históricos. Houve algum recuo no segundo semestre, mas as cotações seguem em níveis altos e a tendência é de novos aumentos, segundo os analistas.

 

Exportações continuam em alta graças a estiagem, que não foi tão prolongada este ano

A valorização do dólar é outro fator que afeta positivamente as margens, pois as commodities são cotadas na moeda americana e as exportações são significativas para esse mercado.

No ano passado, as exportações brasileiras do setor atingiram o valor recorde de US$ 120,59 bilhões, um aumento de quase 20% sobre 2020, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Com a economia brasileira patinando e a perda do poder aquisitivo de parte da população, em 2022 as exportações podem compensar as perdas no mercado interno. “O câmbio compensa uma piora do cenário macroeconômico brasileiro”, comentou Leonardo Alencar, head de Agro, Alimentos e Bebidas da XP Investimentos.

Se os preços em alta e o dólar valorizado beneficiam os produtores brasileiros na hora de vender, na outra ponta o aumento dos preços dos insumos e do frete fazem avançar os custos de produção. Isso é motivo de preocupação.

Calor excessivo: Altas temperaturas geram inúmeros problemas

A safra que começa a ser colhida agora não sofrerá os efeitos do encarecimento dos insumos, pois foi plantada antes de aumentos mais significativos, mas a chamada “safrinha” (a cultura anual de ciclo curto), principalmente a de milho, que será plantada logo em seguida, e a safra 2022/2023 vão ser atingidas.

“As margens em 2021 foram excelentes e ainda serão muito boas em 2022, mesmo com os custos maiores”, acredita Alencar.  Na avaliação de Fábio Mizumoto, coordenador de MBAs em Economia e Gestão de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), o aumento dos custos e a seca no Sul podem resultar em “dois Brasis” no que diz respeito aos ganhos dos produtores: um que irá “colher bem e aproveitar os preços das commodities” e “outro que vai colher menos em função da seca”.

O primeiro é representado pelo Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, e o segundo pelos estados do Sul. Mizumoto ainda teme que a safra 2021/2022 seja até menor do que a prevista no último levantamento da Conab, que já registrou redução.

Desde agora, a quebra de safra no Sul deve pressionar os preços das rações animais e encarecer as carnes, num cenário em que o consumidor brasileiro tem migrado para proteínas mais baratas por causa da inflação e da redução do poder aquisitivo.

 

O PIB em alta está diretamente relacionado com a alta das exportações no ano de 2022

Com perspectivas de estagnação em 2022, a economia brasileira só não deve encerrar o ano com queda do Produto Interno Bruto (PIB) em razão da produção do agronegócio. Apesar do cenário de estiagem que vem derrubando as estimativas de safra das regiões Sul e Centro-Sul do país desde o ano passado, o PIB do setor tende a observar um crescimento de 3%, podendo chegar a 5,2% na previsão mais otimista.

O cenário, a se confirmar, colocaria o agro como único segmento com crescimento expressivo, contrastando com a expectativa de retração de 0,6% da atividade industrial e de ligeira alta de 0,5% do setor de serviços, segundo o último Boletim Focus. Na mediana de previsões de instituições do mercado financeiro, o PIB do país deve ter alta de apenas 0,3%.

O desempenho da agropecuária poderia ser ainda melhor, se não fossem as condições climáticas adversas. Desde o ano passado, estados das regiões Sul e Centro-Oeste sofrem com a estiagem, provocada pelo fenômeno La Niña. A falta de chuvas deve provocar uma queda de cerca de 9% na safra de soja na comparação com a colheita anterior, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

“A influência do fenômeno La Ninã interferiu fortemente nas precipitações registradas. Praticamente toda a região Sul e parte do Mato Grosso do Sul sofreram restrição hídrica severa em novembro e dezembro, além de altas temperaturas, que provocaram drástica queda de produtividade nas áreas”, explicou o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sergio De Zen.

 

Seguro rural é uma forte opção para quem sofre com a estiagem, onde quer que seja

A estiagem que castiga o Paraná há três anos chegou ao seu pior momento no início de 2022, com quebras significativas nas safras de grãos e desdobramento também na pecuária. Situações como essa, que fogem do controle do produtor rural, evidenciam a importância de incluir o seguro rural na gestão da propriedade.

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a estiagem foi o motivo de acionamento de mais de 42,5 mil apólices de seguro rural e 38,9 mil comunicados de perdas no âmbito do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) até o final de janeiro, totalizando mais de 81 mil acionamentos. Os estados mais atingidos pela seca foram Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

No Paraná, estimativas do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) dão conta de um prejuízo superior a R$ 30 bilhões, em razão da seca. Como muitas áreas do estado ainda não finalizaram a colheita, o prejuízo pode ser ainda maior.

Seguro rural do Rural Pago

Quem quiser recorrer a um seguro que permita lidar com os adventos da Natureza, deve sempre recorrer ao Rural Pago, que atua junto a diversos parceiros e podem atuar na cobertura de todo tipo de negócio no campo.

O Proagro é diferente do seguro rural. “É um programa de governo para apoiar os produtores que tenham frustração de safra. Quem estabelece as taxas (alíquotas) é o Banco Central. A contratação acontece junto à instituição financeira e o valor máximo amparado é de R$ 335 mil. Aqui a participação das seguradoras é zero”, afirma o consultor em seguros rurais Luiz Antônio Digiovanni. “Já no seguro rural, quem define as taxas e, portanto, o custo do seguro é a seguradora. E cada uma faz sua análise de acordo com o histórico de informações. É aqui que entra o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), quando o governo define no orçamento o volume de recursos a serem aplicados na subvenção”, completa.

Nesse caso, o governo subvenciona, ou seja, arca com um percentual do custo de contratação do seguro rural. Essa subvenção varia conforme a cultura e o tipo de apólice. Para a soja, por exemplo, o governo arca com 20% do custo do prêmio do seguro. Já para os grãos de inverno, a subvenção varia entre 35% e 40%.

 

Somas astronômicas são pagas pelo Governo quando se trata de estiagem, ou inundações

Nos últimos anos, o aumento no preço das commodities agrícolas, em especial a soja e o milho, no mercado internacional elevou também o valor segurado. De acordo com o Atlas do Seguro Rural, do Mapa, o total pago pelos produtores brasileiros foi de R$ 799 milhões em 2019. Em 2020, esta soma atingiu 1,9 bilhão, e, em 2021, o número chegou a mais de R$ 3 bilhões.

Por outro lado, entre janeiro de 2019 e novembro de 2021, a soma das indenizações pagas aos produtores rurais brasileiros pelas seguradoras que operam no âmbito do seguro rural chegou a R$ 9,5 bilhões.

Ainda segundo o Mapa, mais seguradoras foram habilitadas para operar no sistema, chegando a 18 empresas em 2022. No mesmo compasso, o número de peritos praticamente dobrou em três anos, totalizando 1.178 profissionais.

“O produtor rural precisa entender que o seguro rural é uma importante ferramenta dentro do planejamento da safra, tanto quanto a compra de semente, de fertilizante ou de maquinário. O seguro rural traz uma segurança financeira, em eventual perda. E, em tempos de alta nos custos de produção, o produtor não pode correr riscos desnecessários, ainda mais sabendo que as lavouras estão à mercê das intempéries climáticas”, pontua Ágide Meneguette, presidente do Sistema Faep/Senar-PR.

 

Links pesquisados 

www.g1.globo.com

www.infomoney.com.br

www.gazetadopovo.com.br

www.bigtires.com.br

www.canalrural.com.br

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