Após ter sofrido os impactos da pandemia num primeiro momento, o mercado da celulose se refez e está em plena arrancada
Quem não depende de um guardanapo de papel após o almoço, ou de uma caixinha de papelão para despachar seus presentes de final de ano, pelo correio? Ou mesmo de uma bonita embalagem para colocar seus bens mais valiosos, tipo um lindo vestido, ou um casaco. Enfim, em quase todas as embalagens que usamos, lá está ele, o papelão. E esses são apenas algum micro exemplos da importância do papel em nossas vidas. Porém, devido às dificuldades generalizadas, com o advento da pandemia, o setor papeleiro enfrentou grandes desafios no que diz respeito à demanda de seus produtos e aquisição de matéria-prima. Inclusive, pelo fato de muitas indústrias terem fechado, o mercado de celulose precisou se reinventar e conseguiu. Hoje está de volta ao cenário econômico de forma vitoriosa.
As estimativas do mercado são as melhores possíveis no final do segundo semestre de 2021. Segundo dados informados pela Indústria Brasileira de Árvores (IBA), as exportações do setor aumentaram 4,3%, alcançando 11,3 milhões de toneladas fabricadas. A Associação reúne os principais produtores de papel e celulose do país e os fabricantes de painéis e pisos de madeira, e afirma que o setor deve gerar mais postos de trabalho, além dos 1,4 milhão de trabalhadores já empregados atualmente.
Além disso, ela prevê que o setor continue em crescimento nos próximos anos. Outro dado levantado pelo IBA é de que até 2023 será ampliado o plantio, as fábricas e novas unidades vão investir R$ 35,5 bilhões, nesta área da produção industrial. Empresas brasileiras como a Eldorado e Cenibra ocupam posição de líderes globais para todos os tipos de celulose de mercado e não apenas de fibra curta.
Consórcio Rural viabiliza investimentos no campo
Em compensação, a dependência de um único produto (no caso, celulose de fibra curta de eucalipto), concentração no mercado externo – ocasionam a inflação no preço da celulose, a longa distância para os principais mercados consumidores (provocando custos altos de exportação) e a pouca expertise em pesquisa e desenvolvimento industrial. Aliás, esses são os desafios que ainda são enfrentados pelo setor.
Já em relação às indústrias do segmento de papéis, o Brasil responde por apenas 2,5% da produção mundial de papéis (mas abocanha cerca de 40% de participação da celulose). Alguns entraves são infraestrutura logística deficiente, elevada e complexa tributação, empresas mal estruturadas organizacionalmente e de reduzido porte, custo elevado de energia e químicos de baixo consumo per capita, de papéis no Brasil e na América Latina. Atualmente a Klabin é a maior produtora brasileira e lidera a venda em vários segmentos de papéis no país, mas ainda não está posicionada sequer entre as 20 maiores no mundo.
Inovação no setor
Os avanços tecnológicos no setor papeleiro possuem duas vertentes, uma voltada para o segmento florestal e a outra direcionada para o industrial. No segmento florestal observa-se um avanço em medidas para aumentar a produtividade para assim reduzir custos de produção e a extensão de terras destinadas ao plantio de suprimentos para as fábricas.
No segmento da indústria, o setor avança para a utilização de caldeira movidas a biomassa, deixando para trás métodos genéricos a favor da biotecnologia.
Com o desenvolvimento e aperfeiçoamento de biorrefinarias em caldeiras flamotubulares, a organização industrial deverá mudar. À medida que o Brasil avança em pesquisa e implementação de processos produtivos mais eficientes e menos custosos, há outras vantagens como maior valor agregado, melhorias no revestimento e resistência dos papéis e aumento na força, resistência, refletividade e impermeabilidade de materiais.
Embalagens de papelão reage a mudança em comportamento
Algumas mudanças no comportamento do consumidor foram observadas ao longo destes últimos anos. Com isto, além de ampliar o nicho de mercado de entregas (delivery), o mercado do papel também foi impactado de forma positiva. Até porque esta foi uma mudança no comportamento mundial, que, por conseguinte elevou o consumo por embalagens de papelão. De acordo com a Associação Brasileira de Embalagens de Papel (Empapel), houve um crescimento de 5,5% na expedição de caixas, chapas e acessórios de papelão, em 2020.
Há muito não se alterava o mercado de expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado. Estamos falando de quase 320 mil toneladas, em dezembro de 2020. Quando comparado com 2019, no mesmo período, o índice é de 11,2%, segundo Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO). Esse é o maior nível expedido desde o início da série em 2005 e o maior crescimento anual desde 2010, quando houve alta de quase 10% da expedição.
A celulose é uma das principais matérias-primas para a produção de papel. Por isso, qualquer tipo de mudança em seu custo inicial influencia todo o segmento, que depende deste material para a manufatura de seus produtos.
Os estoques que estavam abarrotados antes da pandemia e com preços reduzidos, começaram a sair de forma rápida, e isso se refletiu na alta do produto. Com disparada no preço da polpa de celulose nos EUA, que ficou em US$ 606, em 2020 e saltou para US$ 907, em 2021.
Reciclados
Para quem usa material reciclado também houve reflexo com a pandemia, pois a matéria-prima de aparas impactou nos custos da produção. A variação do dólar afeta no valor do insumo. Balanço divulgado pelo jornal Valor Econômico dá conta que, entre abril e junho deste ano, o preço das aparas cresceu 173,5%, chegando a R$ 1,7 mil por tonelada.
Este aumento no preço aconteceu por decorrência das variações causadas diretamente pelo consumo, como a quantidade de caixas utilizadas no comércio e as mudanças na demanda por papel reciclado.
Terceiro trimestre apresenta alta no setor de celulose
As empresas do setor de papel e celulose apresentaram resultados melhores no terceiro trimestre do que no período imediatamente anterior, diz o Credit Suisse, com melhores preços realizados — apoiados no mercado da Europa — apesar da queda nas cotações da commodity na China.
Reajustes no papel anunciados pela Klabin no trimestre devem ajudar o seu Ebitda a crescer 3%, a R$ 1,85 bilhão, mitigando a pressão de um maior custo caixa por tonelada no segmento de celulose. Suzano, por estar somente no mercado de celulose, deve ter queda de 3% no seu Ebitda, a R$ 5,7 bilhões.
Para a empresa Irani, uma das principais indústrias brasileiras dos segmentos de papel, o Ebitda teve alta de 11%, corrigindo os preços do papel marrom reciclado, de embalagens e papelão. A Dexco teve aumento de 19%, no seu Ebtida, puxada pelos reajustes nos preços dos seus itens.
E se você ainda não sabe o que é Ebitda, saiba que é um importante indicador que os investidores utilizam para analisar as empresas de capital aberto. O termo vem do inglês Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization. Por esse motivo, ele também é conhecido como Lajida, sigla em português para Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização.
Preços agressivos
De acordo com a corretora Ágora Investimentos, o preço da celulose de fibra curta deverá se manter em US$ 570, por tonelada na média. O que mostra um 2021 bem acelerado em relação a preços na China acompanhada pelo resto do mundo. O mercado também vem observando migração do plástico para o papel.
Dados da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel) apontam que apenas a expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado chegou a 329.757 toneladas em junho, volume 16,7% superior ao registrado no segundo trimestre de 2020. Segundo a entidade, com o resultado, o primeiro semestre de 2021 registrou um volume de 1.992.653 toneladas, que é 13% superior ao mesmo período do ano anterior.
Você sabia?
A celulose é encontrada na estrutura das paredes celulares dos vegetais. Trata-se de uma molécula química formada por uma cadeia complexa de açúcares (glicose). Compreende 33% de toda matéria vegetal do planeta. Cerca de 90% do algodão e de 50% da madeira são celulose.
É processada para produzir papéis e fibras de tecidos e pode ser quimicamente modificada para fabricar plásticos. Os seus derivados dão origem a adesivos, explosivos, agentes espessantes para alimentos e revestimentos à prova de umidade.
Origem da celulose
A celulose já era usada em 105 d.C. na China, quando o papel foi inventado por T’sai Lun. Mesmo sem saber para que servia ao certo, o processo se dava de forma doméstica, com a mistura de cânhamo, cascas de amoreira e pedaços de roupa. Formava-se uma pasta que gerava uma fina massa para formação de uma folha de papel.
Foi só em 1838 que a celulose foi descoberta pelo químico francês Anselme Payen, e foi ele quem determinou sua fórmula química (C6H10O5). A partir daí seu uso foi aprimorado.
Em 1870 foi produzido o primeiro termoplástico com celulose, dando origem a produção de rayon em 1885 e do celofane em 1912. Em 1992, Kobayashi e Shoda conseguiram sintetizar (artificialmente) a celulose sem usar enzimas biológicas.
Como a celulose é empregada?
As fibras de celulose, extraídas das árvores servem para indústria têxtil, na fabricação de algodão, linho e outras fibras naturais.
A celulose microcristalina e a em pó são usadas como cargas de medicamentos e como espessantes, emulsificantes e estabilizadores de alimentos.
Também pode ser utilizada como material de construção e isolador elétrico. Muitos objetos do nosso dia a dia a usam como matéria-prima, entre eles, filtros de café, esponjas, colas, colírios, laxantes e filmes. Serve ainda de biomassa para produção de biocombustível.
A principal fonte de uso comercial da celulose é a transformação em papel, onde o processo Kraft (processo de conversão de madeira em polpa de madeira) separa a celulose da lignina, que é uma macromolécula tridimensional amorfa encontrada nas plantas terrestres.
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