Brasil ocupa maior rebanho do mundo, seja o couro ecológico ou animal
Embora poucos saibam, a palavra “couro” está protegida no Brasil por lei (Lei do Couro – nº 4.888), que tem como objetivo proibir a utilização do termo couro em produtos que não sejam obtidos exclusivamente de pele animal. Você sabe diferenciar couro animal de couro ecológico? Então, vamos lá.
Quem descumpre a legislação está sujeito a cometer crime de concorrência desleal, com uma pena de detenção do infrator que pode variar de três meses a um ano, ou multa. A seguir a lei ressalva-se que o setor calçadista, por exemplo, empregue corretamente o termo couro para evitar punições.
A lei proíbe inclusive que sejam utilizadas expressões como “couro sintético” ou “couro ecológico” indevidamente na tentativa de ludibriar os consumidores.
Couro animal
O couro animal é composto pela pele do animal ao ser submetido por um processo químico de tratamento. Status, durabilidade e qualidade são as suas principais características. É um produto permeável e térmico, o que oferece mais conforto. Pode durar até um século, se bem cuidado. Uma peça nunca fica igual a outra, o que lhe garante exclusividade.
Trata-se de um material com alta durabilidade e estabilidade em relação à variação da temperatura e umidade dos produtos em que é aplicado. Por reunir tais vantagens, está presente na indústria de calçados, mobiliário, automobilística, tapeçaria e vestuário.
As propriedades do material são resultadas de sua natureza aliadas aos tratamentos químico e mecânico a que é submetido. O processo de curtimento à base de cromo é o mais utilizado atualmente.
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Couro ecológico
Laminado vegetal seria o termo correto para classificar os produtos denominados como couro ecológico ou vegetal, feitos a partir de uma técnica de impermeabilização com uso de látex natural extraído das seringueiras nativas da Amazônia. Chamá-los de por esse nome não é ideal, pois só são tidos como couro, os de origem animal.
Foi na Conferência Eco-92, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sediada no Rio de Janeiro, que surgiu a ideia de passar a usar o látex como matéria-prima. Hoje, cada vez mais empresas adotam este material por ser menos nocivo ao meio ambiente.
Naquela época não havia tanta tecnologia para tornar o material comercialmente viável, porém muitas instituições tiveram interesse e procuraram soluções para aperfeiçoar a técnica e tornar possível o uso do látex.
A produção deste tipo de laminado vegetal é feita a partir de um tecido de algodão banhado em látex natural, defumado e vulcanizado em estufas especiais. A origem dele vem do “saco encauchado”, que é um saco de farinha banhado desse mesmo látex. O processo o torna mais impermeável e resistente, feito 100% de forma artesanal, além do que ajuda a empregar os seringueiros.
Na prática são conhecidos como couro ecológico dois tipos de materiais: o couro natural retirado da pele de bovinos e o sintético feito a partir de materiais artificiais.
Com a proibição pela lei 4.888, de 1965, o produto que imita, sinteticamente, o couro não pode ser chamado assim. O ecológico natural se diferencia do tradicional pelo tipo de tingimento.
Quando obtido da pele animal o ecológico é considerado legítimo. Nesse caso, a denominação de ecológico se dá porque causa menos danos ao meio ambiente. Mas nada tem a ver com ser vegano.
Outra vantagem do couro ecológico é que ele pode ser reciclado de outros produtos de couro tradicional. Uma jaqueta velha, assentos de carro usados, podem ser reaproveitados. É um produto que promove a sustentabilidade.
Especialistas apontam o ecológico como uma fonte puramente natural, além de ser oriundo de recursos renováveis, sem produtos químicos e tóxicos, reabastecido de uma forma mais acelerada que o couro tradicional.
Com o passar dos anos, e sendo a indústria da moda a segunda que mais polui no mundo (a primeira é a do petróleo), o couro ecológico, produzido de maneira mais sustentável, também pode ser elaborado a partir da pele de jacarés e peixes. Outro fator importante no processo de fabricação do couro ecológico é o menor uso de água em sua produção comparado ao do couro natural, contribuindo para a preservação dos recursos naturais.
Origem do couro vem de tempos antigos
Há registros da origem do couro desde a antiguidade quando egípcios e hebreus desenvolveram técnicas simples de secagem e cura, o processo de curtimento de vegetais para elaboração de tecidos data de 400 a.C.
Pesquisadores da cultura egípcia encontraram sandálias de couro e outros itens elaborados a partir do material em túmulos. Na China, também já havia produção de peças em couro anos antes da era cristã. Outros povos que comprovadamente trabalhavam com couro são os babilônios, os hebreus, os gregos antigos e também os índios norte-americanos.
Durante a Idade Média, os árabes preservaram a arte de fazer couro e melhoraram muito, tornando os tecidos produzidos na região do Marrocos e no sul da Espanha extremamente valorizados na Europa.
Na atualidade, em meados do século XIX, foram introduzidas máquinas movidas a energia elétrica que executavam operações como divisão, polimento e remoção de pelos. No final deste período, veio o curtimento químico das peles – feito em tanques de carvalho com o uso de sais de cromo.
Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo
O Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo, o que impulsiona uma indústria do materi monumental. Dados do Centro de Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), dão conta de uma produção que gera US$ 2 bilhões por ano.
O mercado nacional possui cerca de 244 plantas curtidoras, 2,8 mil indústrias de componentes para couro e calçados e 120 fábricas de máquinas e equipamentos – um negócio que gera 30 mil empregos diretos. O couro brasileiro é exportado para mais de 80 países, como China e Estados Unidos.
Exportações
O último relatório da SECEX (Secretaria de Comércio Exterior) do Ministério da Economia, divulgado em março, apontou exportações de couros e peles no valor de US$ 111,9 milhões, o que significa um aumento de 15,4% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram exportados US$ 97 milhões.
Os dados atestam um crescimento de 2,2% sobre fevereiro, quando a exportação foi de US$ 109,5 milhões. Quanto ao total exportado em metros quadrados, em março foram embarcados 15,1 milhões, 4,4% abaixo do mesmo mês de 2020, e também queda de 3,6% sobre o mês anterior, quando o total foi de 15,7 milhões de m².
Entre os dez estados que mais exportaram ganhou destaque o Ceará com uma alta de 95,7 por cento, seguido do Mato Grosso do Sul, com 64,2% e de Minas Gerais, com 55,9 por cento. Santa Catarina teve queda de 20,7 por cento e a Bahia, de 1,8 por cento.
Couro no mundo
Acompanhe aqui os índices, pelo mundo:
China
- Valor: share de 27,2 subiu para 27,8%
- Área plantada passou de 32,8% para 32,3%
- Volume sofreu um aumento de 36,1% (+22,2%) e agora também de 3,7% (‐2,5%)
Itália
- Valor: de share de 18,2% (20,9%)
- Área: de 18,6% (21,2%), com crescimento de 36,5% (+61,3%)
- Volume: queda de 5,2% (+11,4%)
Estados Unidos
- Valor: share de 14,0% (14,4%)
- Área: 8,6% (8,7%) queda monetária de 22,7% (‐16,4%) e
- Volume: redução de 26,0% (‐20,1%) em volume.
O impacto dos aumentos nas restrições na Europa já se reflete na Itália, que passa a ter redução em volume sobre o mesmo período de 2020. Além disso, EUA agrava quedas tanto em valor como em volume. A China continua melhorando os índices de compra do couro brasileiro, nos dois quesitos. Se adicionarmos Hong Kong, a China passa a ter praticamente o dobro de participação em volume sobre a Itália, que é a segunda colocada no ranking.
Panorama atual mercado do couro
O Brasil é um dos maiores produtores do mundo, são 310 curtumes espalhados pelas cinco regiões do Brasil, com destaque para o Sul, que concentra 149 unidades, e em particular para o estado de Santa Catarina, responsável por 2,9%, do total das vendas de couro no país.
Dos 310 curtumes, 12,8% produzem couro curtido, 17,7%, couro semi acabado e 64,9%, couro acabado. Do total de couro produzido no Brasil, 3,4% é para consumo próprio, 24,8% usado na indústria nacional e 71,4% se destina à exportação.
Tipos de Couro
Couro cru: todos os tipos de pele animal (bovina, suína, caprina, ovina e outros) não curtida.
Couro semi acabado (crust): inclui o couro animal (bovino, suíno, caprino, ovino e outros) curtido, recurtido, tingido, lixado ou não, que ainda não recebeu acabamento.
Couro acabado: inclui o bovino, suíno, caprino, ovino e outros, acabado e pronto para uso.
Couro bovino
A expectativa é que as exportações de couro bovino registrem um crescimento em 2021 com o possível fim da pandemia de covid-19 e retomada da economia mundial, conforme informou a Scot Consultoria.
Setores automobilísticos e moveleiros devem puxar a alta do material para a demanda internacional pelo produto brasileiro.
Segundo a Analista de Mercado da Scot Consultoria, Thayná Drugowick, é importante acompanhar como será o comportamento do dólar no próximo ano e a evolução da pandemia nos demais países.
“A valorização do dólar frente ao real colabora com as exportações do couro bovino. No entanto, mesmo com o dólar alto no início de 2020, a menor demanda contribuiu com os ajustes negativos das cotações e um mercado mais travado no primeiro semestre”, destacou.
Couro caprino e ovino
Mesmo com pouca oferta de peles nos curtumes brasileiros, a indústria couro-calçadista que opera com peles caprina e ovina está em franca expansão no país. O mercado nacional tem capacidade instalada para curtir o dobro das peles ovinas e caprinas atualmente processadas.
Em contrapartida, o país tem recorrido a contínuas importações de matéria-prima para a manutenção de seu parque industrial. A boa notícia é que o momento está favorável à produção de caprinocultura e ovinocultura nas diferentes regiões do país.
Os preços dos produtos derivados dos couros das duas espécies são crescentes, estimulando a adesão de novos empresários à atividade. O mercado se mostra competitivo para as peles dos pequenos ruminantes.
Couro de porco
Em decadência, o mercado de couro suíno vem amargando uma crise há 15 anos, mas vem tentando se recuperar diante de novas tecnologias para manter a pele valorizada junto à carne, o que tem retraído a oferta de couro.
O que tem ocorrido nos últimos anos, é um cenário onde empresários com maior capital tem migrado para o curtimento de couro bovino.
Como os fulões, maquinário indispensável nesta indústria, variam conforme o tamanho da pele – a do porco só tem 1 metro quadrado – os menos aquinhoados simplesmente fecharam por não conseguirem trocar o equipamento.
O couro retirado do porco é mais macio em comparação com o bovino, mas a grande quantidade de gordura modifica um pouco o processo exigindo duas etapas no caleiro, onde é necessário provocar reações químicas mais fortes, pois quando sobra gordura na pele o resultado é um produto exalando odores indesejáveis para peças de vestuário ou acessórios.
Outra desvantagem é que nessa etapa inicial o couro de boi fica 24 horas, enquanto o do porco demora três dias. Basicamente a gama de produtos químicos é a mesma, cromo no curtimento, recurtentes, corantes, pigmentos, resinas, vernizes, dependendo da aplicação para a qual a pele está destinada.
Em números, o mercado interno de pele suína absorve toda a produção do curtume Riograndense, maior produtor, e para cobrir a demanda a empresa importa matéria-prima principalmente da Rússia e do Japão, somente salgada e acomodada em contêineres. A produção é de 1,2 mil toneladas por ano.
Para se ter uma ideia, a pele de porco pesa menos que a bovina. Uma pele entre 0,6 e 0,8 milímetros de couro suíno pode servir para revestir um sofá. Se fosse a de boi com a mesma espessura, rasgaria.