Existem importantes diferenças entre a veterinária e a zootecnia, ambas de suma importância para o agronegócio
Há quem confunda ainda a área de zootecnia com veterinária. Porém, na prática são funções totalmente distintas uma da outra, embora lidem com o mesmo produto, ou seja, de origem animal. Contudo, enquanto o primeiro cuida de todo o processo envolvido em relação ao animal, o segundo lida com tudo que se relaciona à saúde e bem-estar físico do animal em si.
Numa definição mais técnica, o zootecnista é o responsável pelo aumento e melhoria da produção e da qualidade dos produtos e serviços de origem animal, garantindo a segurança alimentar, respeitando a sustentabilidade da produção e preconizando o bem-estar da humanidade e dos animais. Embora seja bem clara as funções de cada um, ainda hoje, ocorrem discussões acaloradas envolvendo a competência de cada profissional, nos âmbitos de fóruns respectivos.
Estas discussões se repetem, e deram origem a Resolução CFMV n. 1453/2022, que especifica o campo de atividades do Zootecnista, algo que as entidades representativas desses profissionais discordam, pois acreditam que há uma tentativa de reserva de mercado para o veterinário, quando tentam ter prerrogativa, por exemplo, ao lidarem com a questão da inseminação de animais e torneio leiteiros.
A logística rural é viga mestra para o sucesso do agronegócio no mundo
Uma profissão difícil, que tem importantes demandas, e é atacada constantemente, segundo a Associação Brasileira de Zootecnistas (ABZ), dado que há ainda quem confunda a função de zootecnista com a de veterinário. Em reunião recente, inclusive, representantes da categoria foram ouvidos a fim de criar estratégias para defender este profissional. “Todos nós sabemos que os zootecnistas têm sofrido muitos ataques de forma orquestrada, com tentativa de cerceamento, com intimidações, onde tentam defender a ideia de que reprodução é exclusividade clínica e, por consequência, não seria de competência de zootecnistas, quando na verdade, a reprodução é instrumento, ferramenta de produção animal, não necessariamente uma atividade privativa dos médicos veterinários”, explicou o presidente da ABZ, Marinaldo Divino Ribeiro.
Em uma palestra realizada há dois anos, Ribeiro declarou que a estimativa é que existam aproximadamente 35 mil profissionais formados em zootecnia no Brasil. “Desse quantitativo, a perspectiva é que se tenha entre 70% e 75% atuantes no mercado. Os demais fazem parte daqueles que estão aposentados, de que não se encontraram na área ou que por algum motivo deixaram de estar na profissão propriamente dita”, afirmou ele, durante a 26ª Semana de Zootecnia, da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste).
O setor também é um dos que mais gera novos empregos no país. De acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o agronegócio foi responsável por criar 60.575 novas vagas de trabalho no primeiro trimestre de 2021, sendo quase 10 mil delas destinadas à pecuária, principal área de atuação dos zootecnistas.
O profissional dessa área é capacitado para atuar em todos os elos da cadeia produtiva de espécies domésticas, sendo responsável também pela produção sustentável de alimentos de origem animal, como explica Fabyano Fonseca e Silva, professor associado do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa.
Mercado de trabalho é amplo e está sempre em evidência quanto mais o Brasil exporta
Para Sarita Bonagurio Gallo, coordenadora do curso de zootecnia da FZEA-USP, este é um mercado muito aquecido, e não costuma faltar emprego para quem se forma em zootecnia, uma vez que existe um constante crescimento da produção. “Somos os maiores exportadores de carne bovina do mundo e temos uma das maiores produções de frango e suínos, também com vendas expressivas para outros países. Sem dúvida, é um mercado de trabalho muito amplo e ativo”, relata Sarita em entrevista para a Revista Forbes.
“O zootecnista trabalha principalmente com a alimentação (nutrição) dos animais, com a estruturação e planejamento do ambiente em que os mesmos são criados – pensando, inclusive, no bem-estar – e com a seleção das espécies com melhor desempenho genético”, explica. “Na indústria, esses profissionais podem atuar em laticínios, frigoríficos, produção de alimentos e insumos, marketing, desenvolvimento de produtos e análises econômicas e de mercado, entre outras áreas”, complementa Sarita.
Piso salarial de profissionais de zootecnia
Segundo o SINE (Site Nacional de Empregos), hoje um profissional de zootecnia pode ser bem remunerado em qualquer empresa que vá atuar. Desde as mais pequenas até as grandes corporações, com salários que variam de acordo com a formação, eles variam de R$ 2,6 mil até a valores superiores aos R$ 10 mil, sendo em média, pago um piso salarial em torno de R$ 6,3 mil. Portanto, os profissionais da área, garantem que vale a pena seguir a carreira de zootecnista, mas para tanto, deve-se, acima de tudo, gostar muito de animais. Afinal, o bem-estar deles está em primeiro lugar. Até por ser função do zootecnista minimizar o sofrimento do animal, inclusive, na hora do abate, para que não prejudique a qualidade da carne.
Apesar de semelhantes e de atuarem juntos no mercado de trabalho, a carreira de zootecnista não pode ser comparada com a de um médico veterinário. O segundo atua na saúde do animal, com intervenções clínicas e cirúrgicas, enquanto o zootecnista está mais focado em melhorar a produtividade e o rendimento do animal.
Origem da categoria de zootecnista e suas respectivas funções são secular
Na extensa reportagem sobre o assunto, a Revista Forbes traz a história relativa à zootecnia, e conta que foi há mais de um século que ela surgiu. Precisamente, há 177 anos, que o francês Adrien Étienne Pierre, conhecido como Conde de Gasparin, passou a refletir sobre o significado dos animais para a vida no planeta em seu livro “Cours d’Agriculture” (Curso de Agricultura, em tradução livre, sem versão em português). Na época, o nobre propôs uma separação científica e intelectual entre a produção agrícola e a criação de espécies domésticas no Instituto Agronômico de Versalhes. Dois anos mais tarde, nascia a profissão de zootecnista.
A matéria da Forbes lembra, entretanto, que no Brasil, a história desta profissão é bem mais recente. Segundo documentos oficiais a ciência só começou a ganhar espaço, por aqui, no ano de 1951, após a Exposição Nacional de Gado Zebu, conhecida internacionalmente como ExpoZebu, formada por um grupo de intelectuais, das universidades mais tradicionais, como a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP.
Início dos cursos profissionalizantes em zootecnia no Brasil
O primeiro curso de zootecnia do Brasil foi fundado em 1966 pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
A graduação em zootecnia dura entre 4 e 5 anos e para concluir o curso é obrigatório fazer um estágio supervisionado. Entre as disciplinas básicas presentes na grade curricular de zootecnia estão: Zoologia, Biologia, Anatomia, Citologia, Química, Genética, Física e Matemática.
A partir do terceiro ano de curso são incluídas disciplinas mais específicas da Zootecnia, tais como: Bioclimatologia, Melhoramento Genético, Parasitologia, Fertilidade e Conservação do Solo, Produção Animal, Produção Vegetal, Administração e Desenvolvimento Rural. Apesar de várias disciplinas serem ministradas em sala de aula, em boa parte do curso as aulas são práticas.
As principais faculdades públicas de Zootecnia reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC) são: Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IFSEMG) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O mercado de trabalho para o zootecnista é bastante forte na região Centro-Oeste, onde se concentra boa parte das fazendas do Brasil, mas há oportunidades em todas as regiões do País.
Se você deseja trabalhar nas regiões Sul e Sudeste, o campo é promissor em pesquisas em laboratórios, empresas que exportam produtos de origem animal, grandes frigoríficos ou ainda em zoológicos.
Embrapa é uma das maiores empregadoras do ramo da zootecnia no País
Uma grande empregadora de profissionais formados em Zootecnia é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que seleciona funcionários para trabalhar com pesquisas e projetos. O zootecnista tem uma ampla área de atuação que vai desde a criação de animais de produção, companhia e esporte, até a conservação e preservação da fauna, exercendo papel essencial também na atividade agropecuária.
Pilar da economia nacional, o agronegócio funciona como uma mola propulsora para a criação de postos de trabalho para zootecnistas, especialmente no segmento de produção animal. Se hoje o Brasil é reconhecido como o maior exportador de carne bovina, o segundo maior produtor de frango e o quarto produtor de suínos no mercado mundial, muito se deve ao trabalho sério que os zootecnistas desenvolvem nas fazendas e granjas.
Eles são preparados para planejar e administrar os empreendimentos agropecuários, da produção à comercialização dos produtos finais. Por isso, a atividade do zootecnista deve levar em conta a importância da gestão, do empreendedorismo e da inovação.
O profissional deve ter a capacidade de planejar e executar atividades que exijam cálculo, noções de física, bioestatística, entre outras que auxiliarão na tomada de decisões no processo produtivo, preparando-o para uma boa utilização dos recursos disponíveis em suas áreas de atuação.
Legislação que rege a categoria existe desde os anos 60, e tem sofrido alterações recentes
A legislação que rege a Zootecnia e os artigos das competências profissionais estão disponíveis na Lei 5.550/1968.
O zootecnista pode trabalhar em diversos setores da indústria animal. Pode ir para o campo levar conhecimento ao produtor rural e estar em contato direto com os animais; ou trabalhar em um escritório formulando e gerenciando a produção de rações.
Outra área de atuação envolve a economia de mercado, onde o zootecnista precisa ter conhecimentos sobre o mercado agropecuário, sobre a cotação de produtos agrícolas, como o preço do milho e da soja e até mesmo sobre a bolsa de valores e mercado futuro.
Quem é antenado com novas tecnologias, informatização e até mesmo robotização também pode curtir o curso. Já existem inúmeros softwares utilizados na indústria animal que ajudam a monitorar e prever situações na produção animal, ajudando o profissional a tomar decisões. Já existem “robôs” que fazem a coleta de ovos e ordenha das vacas de forma automatizada, utilizando microchips e computadores.
Links pesquisados:
www.zootecnia.alegre.ufes.br
www.crmvsp.gov.br
www.quecurso.com.br
www.forbes.com.br
www.unoeste.br