As mulheres estão ocupando seu espaço em todas as áreas do cenário de trabalho no Brasil, e no mundo. E isto é uma boa notícia, uma vez que as mulheres são maioria no país. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, mais recente, de 2019, a população brasileira é composta por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres. Elas tem a capacidade que elas têm de aglutinar, criar e executar, pois usam os dois lados do cérebro ao mesmo tempo, o resultado só pode ser muito positivo. Segundo reportagem publicada pela Revista Exame, hoje, cerca de 1 milhão de mulheres administram negócios rurais no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Agricultura.
As propriedades sob a batuta das gestoras somam 30 milhões de hectares. Mas elas ainda são minoria: 80% das fazendas são administradas por homens. As diferenças aparecem também em relação ao salário e ao acesso a financiamento, de acordo com uma pesquisa exclusiva realizada pela Agro Ligadas, entidade de mulheres do agronegócio, a multinacional Corteva Agriscience, a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e o Sicredi. Que o mundo do agronegócio até bem pouco tempo, era um ambiente de trabalho dominado só por homens, todo mundo sabe. Mas a boa notícia é que de uns tempos para cá, as coisas têm mudado. E a participação feminina no agronegócio e na indústria agropecuária, bem como em diferentes setores da sociedade, tem sido crescente.
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Um mercado que antes era frequentemente visto como predominantemente masculino e com raras exceções, alguns poucos registros de mulheres atuantes, hoje têm se mostrado muito mais receptivos à presença feminina. O que vai ao encontro das mudanças mundiais, de maior valorização da mulher, em todas as áreas. Afinal, elas se especializam cada vez mais, ministram cursos, palestras e trocam informações com outras potências femininas do setor e não por acaso, temos a ministra Tereza Cristina à frente da pasta da Agricultura.
Uma excelente notícia, uma vez que já não era sem tempo, das mulheres tomarem posições de liderança, no mercado como um todo. Até porque, a ideia de mulher cuidadora dos filhos e mantenedora das casas ficou, há muito, para trás. Durante o século 20, as questões de gênero promoveram uma reflexão acerca do papel da mulher na sociedade, surgindo o questionamento: elas são menos capazes do que o homem? A resposta é: não! O exemplo mais recente do empoderamento crescente das mulheres foi a ascensão de Susan Arnold para a cadeira principal de Chefe Executiva da Walt Disney Company.
Em 98 anos de história, ela é a primeira mulher a assumir o cargo. E não foi antes, por puro preconceito, bem como se vê em algumas áreas, ainda hoje, profissionais experientes e qualificadas deixando de ser contratadas por um simples fator: serem mulheres. Em algumas fazendas, infelizmente, a história se repete.
As donas do pedaço!
De acordo com uma pesquisa realizada em 2018 pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), as mulheres ocupam 34% dos cargos de gerência do agronegócio brasileiro. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta um crescimento de 3% da Taxa de Participação Feminina na Força de Trabalho (TPFT). Isso só no período entre 2002 e 2015, alcançando os 40%.
Desafios das mulheres no campo
Ainda que o campo tenha sido tomado pela força de trabalho feminina, as mulheres têm desafios à frente, um deles é a diferença salarial. Segundo a pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) a média salarial das mulheres é 26% menor do que o valor recebido por um homem.
A maioria das mulheres que atuam no mercado de trabalho, em qualquer profissão, costumam ter a chamada jornada tripla: cuidam dos seus negócios, da casa e dos filhos. Essa sobrecarga de funções pode gerar a dificuldade na conciliação de funções e até mesmo ser um dos fatores que impede o crescimento profissional das mulheres, principalmente no meio do agronegócio.
Segundo um estudo realizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a porcentagem de mulheres com acúmulo de tarefas e múltiplas responsabilidades é de 71%. Além disso, cerca de 34% das mulheres abordadas em pesquisas já vêm de uma família envolvida com o agronegócio. A abordagem dos negócios dentro de casa serve, para essas mulheres, como fator de motivação para entrar no mercado do agronegócio. Ainda que cientes das possíveis dificuldades.
Atuação das mulheres no campo
Para entender sobre a atuação dessas mulheres no mercado, temos dois termos importantes: antes e depois da porteira. O termo “antes da porteira” se refere a quaisquer processos que auxiliem na produção, fora da fazenda, como a atuação no mercado de defensivos agrícolas, insumos, máquinas, fertilizantes, sementes etc; Já o termo “dentro da porteira” abrange as participantes dentro da cadeia de produção da fazenda, no plantio, manejo e colheita. Dentro dos 73% de mulheres que participam ativamente do agronegócio, ou seja, dentro da porteira, 58% são proprietárias ou sócias das propriedades, e representam uma parcela responsável por cerca de 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto).
Segundo a pesquisa desenvolvida pelo Cepea, que recolheu e comparou dados de 2004 a 2015, a força feminina fica majoritariamente concentrada nos setores da agroindústria e agrosserviços. Enquanto os homens se mantém em maioria na agropecuária. Nesse setor, as mulheres estão concentradas nas áreas de hortifruticultura, avicultura, grãos e bovinocultura, especialmente dentro da produção de leite.
Cargos de destaque entre mulheres do agro
- Pesquisadoras, representando cerca de 50% dos cargos. Elas estão por toda parte, no que diz respeito ao campo. Seja à frente de pesquisas em laboratórios, como no caso da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), que coordena os seis Institutos de pesquisa paulista da área, em que 50% do corpo de pesquisadores científicos, são mulheres, e estão na liderança de três dos seis Institutos. Entre outras funções, muitas ocupam o cargo de engenheiras agrônomas, biólogas, economistas, engenheiras de alimentos e têm diversas outras formações de desenvolvimento de pesquisas em agricultura, pecuária, pesca e aquicultura, economia agrícola, sanidade e processamento de alimentos. Contribuindo ativa e diretamente para o crescimento do setor do agronegócio no Estado e em todo o Brasil.
- Produtoras, atuando desde o plantio até a gestão; As mulheres que optaram por seguir esse caminho, geralmente, estudaram economia, agronomia, engenharia e muito mais.
Nomes femininos em destaque no campo
Ainda que as mulheres apresentem resultados e demonstrem suas competências, a sociedade em geral tende a duvidar de suas conquistas. Para demonstrar que o gênero não é um diferencial, em outubro de 2021, a Revista Forbes lançou uma lista com as 100 mulheres mais poderosas do agro. Dentre elas estão:
- Ana Lúcia de Paula Viana, diretora do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, no Ministério da Agricultura, vinculado ao Serviço de Inspeção Federal (SIF). Ana foi a primeira mulher da história, desde a criação do SIF, em 1915, a assumir o posto mais importante do Brasil no setor de inspeção de alimentos;
- Carla de Freitas, criadora do Núcleo Feminino do Agronegócio, o mais antigo grupo de mulheres em atividade. Carla comprometeu-se a fazer do NFA um lugar de troca de experiência entre mulheres, além do compartilhamento de informações sobre gestão, economia e os demais assuntos da fazenda.
- Elizabeth Nogueira Fernandes, a primeira mulher a tomar posse do cargo de chefe geral da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora (MG). Elizabeth é pesquisadora desde 1994 e é pós-doutora em Meio Ambiente pela Universidade de Campinas (Unicamp).
As mulheres são a força do campo, desde sempre
Que elas sempre estiveram presentes no campo, não resta a menor dúvida. Porém, boa parte além de não serem reconhecidas, faziam tarefas ainda menos reconhecidas, do que hoje. Como preparar alimentação, apanhar algodão, milho, laranja, entre outras culturas. Eram muito conhecidas como “birolas”, ao lado de homens, que faziam a mesma atividade.
Em estudo sobre o tema, a pesquisadora Janete de Oliveira Santos, da Universidade Estadual de Londrina, observa que o trabalho das mulheres nas lavouras de algodão, o “ouro branco”, data da década de 1950, durante o auge da cultura e da cidade de Assaí, no Paraná.
Ela fez uma série de entrevistas com catadores de algodão, focalizando o trabalho realizado pelas mulheres nas casas, no horário de descanso da família e nas roças, trabalho despercebido, mas que, se devidamente avaliado, mostra a contribuição dessas catadoras para a economia da cidade e a cultura do algodão. E nele é possível observar que a mulher não era apenas coadjuvante no trabalho, mas sim a força motriz que o conduzia.
Pesquisa sobre cultura do algodão
A pesquisa mostra que a cultura do algodão em Assaí, na década de 1950, baseava-se no trabalho familiar. Mas, podia contar também com o trabalho de peões (diaristas sem vínculos de emprego). E, embora menos frequente no colonato, um sistema misto de remuneração e relação de trabalho: podia ser por tarefa ou por produção. O colono recebia um salário anual para cuidar de determinadas tarefas e morava na propriedade.
Além do salário tinha à sua disposição terras onde cultivava alimentos para si. Nesse contexto o trabalho feminino era muito solicitado tanto na lavoura do algodão quanto na criação dos filhos. E também nas atividades complementares como a lida na casa, a criação de animais, plantio para a alimentação, entre outras tantas.
Do trabalho da mulher dependia o ciclo vital da família, como constatou Mary del Priore, em sua obra “História das mulheres no Brasil” (ed. Contexto, 2001), relativamente a outros espaços e tempos.
Links pesquisados:
https://summitagro.estadao.com.br
https://www.correiobraziliense.com.br
https://www.cepea.esalq.usp.br