Inflação alta não tem afetado o mundo do agronegócio

Inflação alta não tem afetado o mundo do agronegócio

Inflação alta, combustíveis mais caros, nada disto tem causado impacto no crescimento do agronegócio no País

 

Os analistas do mercado financeiro elevaram pela segunda semana seguida a estimativa de inflação para 2022, que passou de 5,09% para 5,15%. Diante do resultado, essa expectativa está acima do teto da meta central de inflação para este ano, que é de 3,5%. Contudo, este fato não vai afetar a agropecuária. Aliás, pelo contrário. Tem sido ela que nos últimos anos tem dado suporte para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. E, em 2022, ano em que o ritmo geral da economia deve diminuir, podendo desembocar até numa recessão, o setor de agronegócio, é um dos poucos a mostrar avanço, segundo especialistas.

Na avaliação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB da agropecuária deve subir 2,4% neste ano, na comparação com 2021. Para o economista Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da consultoria Brain, a produção do campo terá expansão de 2,5%. O agronegócio é, atualmente, responsável por cerca de metade das exportações do Brasil.

Expansão mesmo com inflação alta

O setor está em franca expansão, com recordes de produção e geração de receita nos últimos anos. O segmento deve enfrentar ainda altos custos de produção, com os insumos mais caros, o que limita a margem de lucro dos produtores. Nesse caso, essa alta está ligada a questões políticas externas, mas também à desvalorização do real.

Impulsionador do PIB no ano passado, apontado por economistas como único motor da economia em 2022 e com o recorde de abertura de capital de empresas do setor na bolsa de valores brasileira em 2021, o agronegócio pode ser protagonista da economia neste ano também. Com os bons resultados de 2021 – apesar dos problemas com o clima e a alta da inflação de uma maneira geral – o fato é que o agronegócio deve continuar impactando positivamente os investimentos no setor.

 

Até o clima, que foi o principal desafio ao longo deste primeiro trimestre, dá mostras de melhora

 

O ano já começou animador para a agroindústria brasileira: depois do ótimo mês de janeiro, foi batido um novo recorde em fevereiro. As exportações do mês alcançaram US$ 10,51 bilhões e o valor foi 65,8% superior ao de fevereiro de 2021. Além do aumento da quantidade de exportações (+33,7%), os bons números são resultados do aumento de preços da maioria dos produtos exportados (+24%).

Assim, as expectativas são boas para o setor em 2022. Um relatório da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que o agronegócio deve crescer 5% neste ano – saldo acima do que é esperado pela CNA. A melhora nas estimativas tem relação com a melhora do clima, com as chuvas estabilizando, reservatórios começando a operar com maiores capacidades e aumento dos preços internacionais de diversas commodities.

O PIB brasileiro deve crescer 1% ou pouco menos neste ano, segundo as principais estimativas. A indústria e a construção civil podem até recuar em 2022. O fato de o agronegócio representar até 25% do PIB brasileiro faz com que esse setor esteja sob os holofotes do governo e da sociedade.

O agronegócio e a inflação

O agronegócio é responsável por até 10% dos empregos brasileiros, então um avanço do setor pode significar boas notícias ao país. Apesar de todos esses dados positivos, uma preocupação “ronda” os produtores brasileiros: a inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do País, fechou em 2021 com 10,06%, o número foi o maior valor desde 2015, e superou o teto da meta, que era de 5,25%.

Os bons resultados de exportação e os preços altos de alimentos nas gôndolas dos mercados podem dar a sensação de que os produtores estão tendo lucros recordes, mas isso não é verdade. Segundo o relatório “O Agronegócio e a Inflação”, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, os lucros do setor não são bem divididos ao longo da cadeia produtiva.

O relatório aponta que alguns gargalos, como indústrias agrícolas, concentram boa parte da lucratividade, que muitas vezes não chega aos produtores primários. O setor também está bastante sujeito à elevação dos preços em dólar, uma vez que os principais insumos agrícolas, como fertilizantes, são importados e há a influência do preço do petróleo em toda a cadeia produtiva.

 

Inflação alta não afeta as exportações, se reflete nos preços e não implica lucratividade para pequenos produtores

 

O aumento de preços nem sempre significa lucratividade para o setor. O agronegócio está sujeito a diversos fatores que podem levar a variações não antecipadas, como pragas, intempéries climáticas e influências externas nos preços.

Um exemplo recente é o da retirada das exportações de milho da Ucrânia devido à invasão russa. Sem a oferta do milho do país, que é um dos principais exportadores mundiais da commodity, a demanda e o preço devem subir.

Dessa forma, o preço alto do milho influencia diretamente o preço das proteínas animais, já que o grão é um dos principais ingredientes das rações de rebanhos. Soma-se a isso o fato de a carne já vir sofrendo aumentos nos últimos anos, o que tem feito que menos seja comprado e leve os produtores a não repassar todos os aumentos ao consumidor.

Com a continuidade dos conflitos no leste europeu, o preço do petróleo deve continuar elevado. O preço do barril, que ultrapassou a marca de US$ 100 no início da invasão, está com valores estabilizados na casa dos US$ 110 no fim da primeira quinzena de março. Com a dependência do diesel do agronegócio brasileiro, o preço final dos alimentos para os consumidores não deve ter baixa significativa tão rapidamente.

Logística na área rural é fundamental para escoamento da produção

Outro fator de influência para a elevação dos preços é a dependência dos fertilizantes russos. O Brasil busca outras soluções de importações, mas sem a oferta do leste europeu a tendência é que os preços dos insumos continuem elevados.

Mesmo com a elevação dos preços e o aumento da produção de algumas culturas, a alta dos custos de produção deve achatar a margem de lucro do produtor rural de maneira geral.

O diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, aponta o encarecimento dos financiamentos em 2022, por causa dos juros altos. “A Selic vai continuar alta em 2022, em 11,25%, e isso traz uma preocupação muito grande para o setor em função principalmente do crédito rural oficial que tem uma parte indexada na Selic. Então já imaginamos um cenário mais complicado para tomada de crédito para o produtor”, afirmou.

Neste contexto, de acordo com a CNA, alguns fatores devem determinar o comportamento da safra 2021/2022 no Brasil e precisam ser acompanhados de perto no próximo ano, como a questão da logística, o abastecimento de insumos (boa parte da matéria-prima dos fertilizantes é importada, o que impacta os custos de produção) e o fenômeno climático La Niña.

 

Exportações em alta e retomada de acordos com a China e outros países, compõe novos cenários

 

O agronegócio é um setor bastante integrado internacionalmente do ponto de vista das suas exportações, que representam em torno de 25% do seu PIB (enquanto para a economia brasileira, a cifra é de 15%). As exportações do agronegócio aproximam-se da metade do total brasileiro.

A China é o principal importador (37%) e a União Europeia (com 15%) vem em segundo. Aproximadamente 44% do faturamento externo vem do complexo soja e 16% de carnes. Portanto, as exportações são fundamentais para o agronegócio e para o Brasil. Há, porém, uma grande concentração em termos de destinos e produtos, o que gera desconforto e preocupação. E os produtores de diversos commodities estão comemorando, desde que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Administração Geral de Aduanas da China anunciaram resultados significativos, que se refletem na ampliação e diversificação do comércio agrícola entre as partes.

Segundo o comunicado, foram retomadas as exportações brasileiras de carne bovina à China, temporariamente interrompidas após a ocorrência de casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (“mal da vaca louca”) no Brasil. Deu-se também continuidade ao processo de habilitação de estabelecimentos brasileiros exportadores de laticínios e produtos cárneos.

Exportação 2022 tem tudo para ser excelente

Além disso, outros quatro protocolos foram firmados para exportação de farelo de algodão, carne bovina termoprocessada e melão do Brasil para a China, bem como de exportação de peras da China para o Brasil. Foram concluídas, ainda, visitas de inspeção para amparar exportações brasileiras de farelo de soja, proteína concentrada de soja, aves, ovos e soro sanguíneo bovino à China. Do lado das exportações chinesas, foram realizadas auditorias em estabelecimentos produtores de envoltórios naturais para exportação ao Brasil.

O crescimento econômico mundial previsto pelo FMI para 2021 é de 5,9% (após uma queda de 3,3% em 2020) e, para 2022, 4,9%. Daí para frente a projeção é de uma média de 3,3%. Houve recuperação em 2021. Seguirá havendo recuperação econômica mundial em 2022. Essas cifras são representativas dos grupos de economia tanto avançados como emergentes.

Entretanto, o Brasil destoa ao ter um crescimento de 5,2% em 2021 e 1,5% (já otimista) em 2022. Para a China, os números são 8% e 5,6% e para Índia, 9,5% e 8,5%. Não há grande preocupação, portanto, quanto à demanda mundial em geral e pelos produtos do agronegócio, em especial. Já a economia interna, o mercado doméstico, terá desempenho desapontador.

 

Links pesquisados:

www.summitagro.estadao.com.br

www.cepea.esalq.usp.br

www.canalrural.com.br

www.cnnbrasil.com.br

www.investnews.com.br

www.correiobraziliense.com.br

www.portalmaquinasagricolas.com.br

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